Pintura

A importância do azul

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Artistas:

Helena Almeida, Yves Klein, Zdzisław Beksiński

Projecto

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Category

Pintura

Três pintores, três estilos diferentes, três azuis. Entende-se parecer peculiar esta associação de correntes antipódicas, porém, sinto que faz sentido abordar a utilização frequente desta cor: numa obra como única, noutra já predominante e na última apenas pontual.
Em cada pintura é retratada uma narrativa diferente, dado que cada traço denuncia a passagem palavrada de uma sensação. Helena Almeida, com o azul rasgado sobre a fotografia a preto e branco, mostra como a cor sai personificada, cobrindo por vezes a face da artista completa ou parcialmente. Seria ousado fazer uma interpretação exata de tal abordagem, mas é um facto de que o azul representa assim um complemento à fotografia que, posteriormente, a artista usará como ferramenta da sua ficção. Fá-lo de diversas maneiras mas especialmente na sequência fotográfica em que o azul ganha forma física e pode inclusivamente ser colocado no bolso ou mesmo na boca como podemos ver nos trabalhos intitulados “Estudo para um reconhecimento interior”. 

 

Depois do azul como instrumento surge o azul como obra – Yves Klein – chegando até a patentear a cor, denominando-a de Internacional Klein Blue, em 1960. Desde sempre que se serviu desta cor como emersão, preenchendo por vezes a tela, algo que seria posteriormente considerado uma importante influência na arte contemporânea e moderna, tendo em conta que, a partir desta interpelação, surge a discussão de arte invisível ou imaterial. Klein levanta a problemática do vazio e concentra algumas das suas obras (não só de pintura) no incorpóreo que automaticamente remete a nossa atenção para a realidade e não para a hipotética interpretação do objetivo artístico. Esse seria então o desejo do artista francês quando abriu a sua exposição intitulada “Zonas Imateriais de Sensibilidade Pictórica”, surpreendendo com uma sala vazia: sem quadros, sem esculturas, enfim, sem qualquer tipo de influência que pudesse interferir na perceção sensorial imediata do recetor.

 

Finalmente, aflora o azul como contraste significativo numa pintura repleta de cores quentes. Zdzisław Beksiński é mundialmente conhecido pelas suas pinturas infernais e sombrias que regra geral retratam pesadelos e obsessões. Curiosamente, cada vez que o mesmo representa a ideia (na minha ótica) de morte, desenha-a como sendo uma figura azul, assim, a cor é usada como contraposição visível no meio de todo aquele caos quente, sendo algo que por isso mesmo se destaca. Há, porém, quem defenda a ideia de que o azul usado em obras específicas – azul da Prússia – remete para uma composição química presente um ácido usado nas câmaras de gás em Auschwitz, funcionando então como uma mensagem referente ao holocausto. Relembrar que Beksiński nasceu na Polónia e acompanhou de perto o desenlace da segunda guerra mundial.

 

Todas as seguintes imagens foram retiradas de: http://arteseanp.blogspot.com/2016/02/helena-de-almeida.html  e https://www.wikiart.org/pt 

Helena Almeida – Pintura Habitada

Estudo para um enriquecimento interior (1977)

Estudo para um enriquecimento interior (1977)

Pintura Habitada (1976)

Anthropometries of the blue period (1962) – Yves Klein

International Klein Blue 79

Sem nome – Zdzisław Beksiński (nenhuma obra do artista tem nome para evitar interpretações)

Sem nome (Azul da Prússia)

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